MORTE DE IRMÃOS QUE TOMARAM VENENO ACHANDO SER SUCO NO PARANÁ: AGROPECUÁRIA É INVESTIGADA POR VENDA ILEGAL.
Polícia afirma que substância pode ter venda ilegal no Brasil, que foi vendida em garrafa plástica transparente e não rotulada (o que é proibido), e que agropecuária não tinha autorização para vender nenhum tipo de veneno. Defesa diz que vai aguardar finalização do inquérito para se manifestar.
A agropecuária que vendeu o veneno de uso agropecuário que causou a morte de dois irmãos em Sengés, nos Campos Gerais do Paraná, está sendo investigada pelo crime de venda ilegal de agrotóxico proibido.
Segundo a Polícia Civil, a substância foi vendida em uma garrafa plástica transparente e não rotulada (o que é proibido), e a suspeita é que os irmãos tomaram achando ser suco de uva. Eles tinham 54 e 57 anos e eram diagnosticados com esquizofrenia. O caso aconteceu em janeiro e está com o inquérito “travado”, aguardando o resultado de laudos periciais.
De acordo com o delegado Isaias Fernandes Machado, responsável pelo caso, outro irmão das vítimas, responsável por comprar o veneno e deixar na casa deles, disse tratar-se de um agrotóxico que, segundo o delegado, tem venda proibida no Brasil. Agora, a polícia aguarda a perícia confirmar que se trata da substância.
Ele também afirma ter verificado que a agropecuária não possuía autorização para vender nenhum tipo de agrotóxico – somando três irregularidades identificadas.
A situação inicialmente foi atendida pela delegada Renata Batista, quando Isaias estava de férias. Na época, ela ressaltou que, por lei, herbicidas devem ser vendidos rotulados, com identificação e orientações sobre cuidados no manuseio – o que não foi o caso da situação de Sengés, segundo ela.
“O herbicida foi adquirido na forma líquida, e tinha uma cor escura, parecida com suco de uva, e foi vendido a granel, ou seja, o vendedor retirou de um frasco maior e acondicionou em um frasco transparente, parecido com garrafa de suco. Nesse frasco de meio litro de herbicida não tinha nenhuma etiqueta com alerta de perigo sobre o consumo, forma de uso, ou composição”, relatou, na época.
Por isso, adianta o delegado Isaias, quando a perícia for entregue e o inquérito for finalizado, o dono da agropecuária e a esposa e o filho dele, que também são responsáveis pelo estabelecimento, devem ser indiciados.
Ele explica que os três podem ser condenados a até nove anos de prisão pela venda do veneno proibido, e a seis anos de prisão pela venda de agrotóxicos permitidos, mas sem autorização.
Ao g1, o advogado que representa os donos da agropecuária disse que a defesa vai aguardar a finalização do inquérito para se manifestar.
Cinco meses após mortes, polícia aguarda aguarda laudo da perícia para finalizar inquérito
A Polícia Civil do Paraná (PC-PR) afirma que aguarda o resultado de laudos periciais da Polícia Científica do estado “para identificar a substância ingerida pelas vítimas e concluir o inquérito policial”.
Questionada pelo g1 sobre o andamento dos laudos, a Polícia Científica do Paraná afirmou que, por envolverem a detecção de agrotóxicos em amostras de sangue, as análises demandam maior tempo de processamento “em razão da complexidade analítica envolvida”.
O prazo estimado para o término dos laudos é a segunda semana de julho, diz a corporação.
“Tais compostos exigem métodos específicos de extração, derivatização e detecção, geralmente realizados por técnicas instrumentais de alta sensibilidade, como a cromatografia líquida acoplada à espectrometria de massas (LC-MS/MS). Além disso, o processo requer rigoroso controle de qualidade e validação dos resultados, o que impacta diretamente no prazo de liberação. […] Reiteramos que todas as etapas estão sendo executadas com o cuidado necessário para garantir a confiabilidade e precisão analítica”, justifica a Polícia Científica.
Irmãos tiveram acesso a veneno por engano, indica investigação.
De acordo com a corporação, familiares relataram que as vítimas eram diagnosticadas com esquizofrenia e moravam sozinhas em uma casa próxima de onde vive outro irmão, de 65 anos, que era tutor deles e foi quem comprou o veneno. Ambas as residências ficam no mesmo sítio, na zona rural da cidade.
O g1 teve acesso ao interrogatório deste irmão. Ele disse à polícia que os dois tiveram acesso à substância por engano. Assista acima.
O homem não possui defesa constituída e o g1 optou por não revelar o nome e imagem dele porque o inquérito que apura o caso aponta que ele não agiu com a intenção de matar, e as mortes são consideradas acidentais.
Segundo ele, no dia 8 de janeiro os dois pediram que ele comprasse suco de uva. Ele contou que comprou no mercado e, no caminho, aproveitou para ir a uma agropecuária comprar botas e luvas. No mesmo estabelecimento, comprou um herbicida que estava precisando para utilizar na lavoura.
O irmão das vítimas também disse à polícia que, ao chegar na casa deles, deixou a sacola com o suco e também a com as botas e as luvas – mas nela também estava o herbicida, que ele esqueceu de levar para a própria casa. Cerca de 20 minutos depois ele percebeu que deixou a sacola na casa dos irmãos e voltou ao local para buscar o veneno, mas eles já tinham tomado o líquido, conforme a investigação.
Os familiares disseram que os irmãos provavelmente acharam que o veneno era suco de uva por três motivos:
eles tinham pedido para o irmão mais velho comprar a bebida;
a cor do veneno, que era líquido, parecia com a do suco;
e o recipiente em que o veneno estava era uma garrafa plástica transparente e não rotulada, semelhante a uma garrafa de água de 500 ml.
A ingestão aconteceu no dia 8 de janeiro (quarta-feira). De acordo com o boletim da ocorrência, ambos foram socorridos com vida, mas faleceram horas depois, já no dia 9, no pronto atendimento municipal.
“O irmão que levou o veneno que matou seus irmãos, por ter agido com negligência, irá ser indiciado por homicídio culposo – mas certamente, segundo a lei, irá receber perdão judicial”, finaliza o delegado.
Fonte: G1 PR
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